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Tabu em torno da menstruação impacta saúde física e mental

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Já é possível adquirir absorventes de forma gratuita em Mato Grosso por meio das drogarias cadastradas no Programa Farmácia Popular. Anúncio foi feito pelo do Ministério da Saúde neste mês de janeiro e visa driblar os riscos à saúde e desenvolvimento que a pobreza menstrual pode acarretar.

De acordo com a pasta, 507 farmácias em 116 municípios no estado estão credenciadas para distribuir o item de higiene ao público que tem direito ao benefício. A oferta é direcionada as pessoas de baixa renda, matriculadas em escolas públicas, em situação de rua ou em vulnerabilidade extrema. A estimativa é alcançar cerca de 417 mil beneficiários em Mato Grosso.

Assim como os demais itens de higiene, os absorventes são fundamentais para a manutenção da saúde e da qualidade de vida. No entanto, ainda hoje nem todos enxergam a importância que esse produto possui, principalmente para quem não tem acesso.

Em conversa com o GD, a ginecologista, obstetra e professora no Hospital Universitário Júlio Muller (HUJM), Giovana Fortunato, explica que mesmo sendo um processo natural do corpo humano, a maioria das pessoas ainda se espanta ou sente vergonha da menstruação. “Infelizmente, este é um tabu enraizado na nossa sociedade e nos traz diversos problemas”, lamenta.

De acordo com a médica, persiste a falta de conhecimento sobre os cuidados que envolvem o sangramento, seu caráter biológico, sua necessidade, desenvolvimento, e ainda, as diversas visões culturais a respeito dele.

“Muitas das questões enfrentadas se apresentam por demandas econômicas, sanitárias, dificuldade de acesso à medicina, crises humanitárias, desigualdade racial e social, mas também devido à falta de conhecimento sobre o próprio corpo e ao tabu direcionado à menstruação”, explica.

Conforme a especialista, o conceito de pobreza menstrual corresponde à falta de condições de realização da higiene forma adequada durante o fluxo, o que se deve à ausência de itens básicos, como absorventes, a falta de acesso à infraestrutura e serviços de saneamento básico e também à escassez de informações e conhecimento a respeito do tema.

“Ela atinge pessoas em situação de pobreza e vulnerabilidade, como moradoras de rua e mulheres em privação de liberdade. Entre as adolescentes, uma das consequências da pobreza menstrual é a evasão escolar. Além disso, essa escassez afeta diretamente a saúde mental e física daquelas que se encontram nessa condição”, alerta.

Segundo a médica, não falar sobre a menstruação já é um jeito de dizer algo sobre ela, o que significa que não colocar o assunto em pauta aumenta a desinformação, de modo que atinge tanto quem menstrua quanto o restante da população.

Além disso, ajuda a perpetuar os preconceitos e tabus no dia a dia, o que dificulta o acesso ao conhecimento necessário para combater os problemas relacionados à higiene correta e à naturalização da menstruação.

“A menstruação é comumente associada a um período sujo, a falta de higiene. Expressões como ‘estar de chico’ ou ‘naqueles dias’ são usadas para se falar sobre o ato natural de se menstruar. Essas associações trazem desconforto e vergonha às jovens”, afirma.

Dentre os casos que já atendeu ao longo dos anos, a médica conta de um episódio em precisou ensinar uma paciente a como colocar o absorvente na escola, pois ela nunca teve instrução ou diálogo sobre o assunto em casa. “A dificuldade de acessar serviços e a precariedade menstrual podem ser fatores de estigma e discriminação. Existe extensa literatura sobre o aumento do absenteísmo ou da taxa de exclusão escolar como efeito da precariedade menstrual”, destaca.

Além disso, como consequência do inadequado manejo da menstruação, podem ocorrer diversos problemas que variam desde questões fisiológicas, como alergia e irritação da pele e mucosas; infecções urogenitais como a cistite e a candidíase.

Em casos mais extremos, a médica alerta como isso pode afetar toda a saúde. “Muitas mulheres permanecem com o mesmo absorvente por muitas horas ou utilizam pedaços de pano, roupas velhas, jornal e até miolo de pão, resultando em problemas que variam desde alergia e candidíase até a síndrome do choque tóxico, potencialmente fatal e que pode levar à morte”.

A médica destaca que a privação desses direitos causa um problema multidimensional que exige uma abordagem multidisciplinar para solucionar os problemas decorrentes. “Não é possível pensar em direitos menstruais sem considerar as múltiplas realidades no Brasil”.

Como adquirir?

Para retirar o absorvente, basta se dirigir a uma unidade credenciada do Farmácia Popular, apresentar um documento de identificação oficial com número do CPF e a “Autorização do Programa Dignidade Menstrual”, em formato digital ou impresso. A autorização deve ser gerada via aplicativo ou site do “Meu SUS Digital” (nova versão do aplicativo Conecte SUS), com validade de 180 dias. A aquisição para menores de 16 anos deve ser feita por responsável legal.

Fonte: Gazeta Digital

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