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Pesquisadores anteciparam inviabilidade de retaludamento antes do começo de obras

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Fonte: Gazeta Digital, créditos da imagem: Mariana da Silva

Um levantamento realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) havia identificado, antes do início das obras de retaludamento do paredão em Chapada dos Guimarães (67 km ao Norte), que o projeto era inviável, não seria concluído no prazo previsto e poderia trazer prejuízos ambientais. O relatório foi ignorado e, após 10 meses de obra, o trabalho suspenso por conta dos problemas apontados ainda no início e pelo grupo de estudo. O comunicado foi feito pelo governo do Estado, no começo da semana, com 26% do cronograma executado e R$ 10 milhões investidos.

 

Publicado oficialmente em 12 de junho de 2024, o relatório técnico foi conduzido por 4 pesquisadores, o doutor em geociências Caiubi Kuhn, o mestre em engenharia civil Renan Rodrigues Pires, o doutor em geografia Cleberson Ribeiro de Jesus e a geóloga e doutora em ciências ambientais Flavia Regina Pereira Santos. O documento foi encomendado pelo município de Chapada dos Guimarães, mas não considerado pelo governo de Mato Grosso ao definir medidas para conter o deslizamento de rochas nos paredões. Um estudo interno foi realizado e adotada a solução menos recomendada pelos pesquisadores da universidade.

 

 

Os 4 profissionais utilizaram não somente levantamentos realizados na época, como também estudos anteriores que mapeavam e traziam informações sobre a região. Os registros indicavam que os deslizamentos ocorriam no local desde 2013 e recomendavam providências.

 

“Nós fizemos a análise de todos os relatórios que encontramos e que estavam disponíveis em várias fontes, até mesmo pelo próprio processo, o inquérito que existe do Ministério Público sobre esse tema. Foi uma leitura de milhares de páginas que fizemos para justamente identificar essas informações. Não é um estudo simplesmente com a opinião técnica de algumas pessoas, utilizamos todos os estudos anteriores que estavam disponíveis de forma pública”, afirmou Caiubi Kuhn, um dos participantes do relatório.

 

O documento publicado apresentava alternativas para a solução do problema na região do Portão do Inferno, bem como a avaliação e classificação de qual seria a melhor aplicada. Entre as possibilidades estavam a construção de um túnel, o desgaste e elevação da lateral do morro e a construção de um viaduto, com uma ponte, sendo a última a melhor delas.

 

“A melhor alternativa corresponde ao viaduto para o Portão do Inferno, em virtude das dificuldades técnicas e do impacto na paisagem relacionadas as alternativas de túnel e corte no morro”, afirma trecho do relatório.

 

Outro estudo realizado pela Secretaria de Estado de Infraestrutura (Sinfra) indicada outras soluções. A adotada pelo governo foi aquela menos considerada pelo relatório, porém, a Sinfra apresentou como justificativa curto prazo de execução, uma opção mais economicamente viável e que permitira a trafegabilidade segura no local. Mesmo assim, o relatório dirigido pelos 4 pesquisadores apontou que seria necessária a utilização de explosivos, que poderiam atingir a pista, obrigando a interrupção no trânsito, além de considerar a possibilidade do orçamento previsto, de quase R$ 30 milhões, ser insuficiente e assim como prazo de 120 dias, o que se provou real. O levantamento previa, também, que ao iniciarem as obras, outras movimentações rochosas poderiam ocorrer, trazendo o risco de problemas no viaduto onde hoje existe a rodovia.

 

“O ponto é que nesse estudo que fizemos, a gente conseguiu prever esse cenário. O que está colocado no estudo acabou se consolidando e o que o governo tinha previsto não se consolidou. Nosso estudo é um estudo técnico, não é uma posição política”, frisou o doutor.

 

Na última terça-feira (24), o governador Mauro Mendes (União) afirmou que, com as escavações, foi encontrado um tipo de solo que torna inviável a continuidade do projeto previsto.

 

“Quando a empresa chegou no local e começou a limpar, percebeu dificuldades. Solicitamos então novas sondagens, feitas do topo do morro. Foi uma mobilização gigante. Colocamos vários guindastes para levar a máquina até o topo. E foi aí que veio a surpresa do tipo de solo encontrado”, declarou o chefe do Executivo.

 

O relatório apontava para esse risco, considerando principalmente as explosões necessárias para o corte do morro, que poderia causar instabilidade na estrutura do morro.

 

“Com este volume de solo de 3ª categoria, é absolutamente necessário a utilização de explosivos, que podem vir a instabilizar outras regiões da MT-251 que, conforme indicado por este estudo, possuem riscos médios a altos de queda de bloco”, apresenta o relatório em trecho da página 60.

 

Um anúncio realizado pela Sinfra na sexta-feira (27), afirmou que as obras serão interrompidas e que uma nova solução será implementada no local, desta vez, com um túnel. O túnel seria uma opção melhor que a da primeira tentativa, porém ainda não é a mais adequada, de acordo com o estudo da UFMT.

Sinfra

Portão do Inferno

Valor já gasto e valor pago em obra do Portão do Inferno

 

A obra de retaludamento já consumiu R$ 9.946.664,49. Deste total, o governo realizou o pagamento de R$ 9.387.347,64 de acordo com dados da do Mapa de Obras da Sinfra. A pasta trabalha na elaboração do anteprojeto de engenharia, para realizar outra licitação. O edital para nova contratação deve ser publicado em agosto deste ano.

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