Início Cidades Construída com herança de português, Santa Casa atravessou pandemias em dois séculos

Construída com herança de português, Santa Casa atravessou pandemias em dois séculos

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Fonte: Gazeta Digital, créditos da imagem: Mariana da Silva

Parte importante da história da medicina, as Santas Casas de Misericórdia são instituições filantrópicas constituídas no passado como irmandades que carregavam como missão o tratamento e sustento a enfermos, permitindo um maior acesso da população aos serviços públicos assistenciais e de saúde. Frequentemente envolvida em polêmicas sobre fechamento, a Santa Casa de Cuiabá é uma delas.

Trata-se do primeiro hospital de Cuiabá. Dos 306 anos da Capital, ela faz parte de mais de 200 anos de sua história. Com fachada em arquitetura gótica alemã, foi tombada pela Secretaria de Cultura do Estado de Mato Grosso e tem como santa padroeira Nossa Senhora da Conceição.

Ao GD, o doutor em História Social pela USP e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, professor Fernando Tadeu de Miranda Borges, conta que a Santa Casa era uma reivindicação antiga da população de Cuiabá, da década de 1740. Segundo ele, desde a década de 1720 Cuiabá contou com presença de médicos e cirurgiões, e lutou para mantê-los na região.

“Com o falecimento de um cidadão português de posse, que morava em Vila Bela da Santíssima Trindade, Manoel Fernandes Guimarães, preocupado com a saúde em Vila Bela e Cuiabá, deixou de herança uma parte de sua fortuna para a construção de um hospital, que atendesse a população”, explica o professor.

É dito que esse dinheiro ficou guardado até 1815, quando o governador da Capitania de Mato Grosso, João Carlos Augusto D’ Oeynhausen Gravenberg, iniciou sua construção, inaugurando o hospital, em 8 de dezembro de 1817, que inicialmente recebeu o nome de Hospital Nossa Senhora da Conceição. Posteriormente foi dado o nome de Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá.

Cuiabá das Antigas

santa casa

Foi com Gravenberg, Marquês de Aracati, que Cuiabá, em 1818, foi elevada de vila à cidade, e a inauguração do hospital, em 1817, acelerou a transferência da capital de Vila Bela da Santíssima Trindade para Cuiabá, ocorrida em 1835.

“A partir de 1919, ano do bicentenário de Cuiabá, Dom Francisco de Aquino Corrêa, governador de Mato Grosso e arcebispo de Cuiabá, trouxe 3 salesianas para auxiliar na administração da Santa Casa de Misericórdia e nomeou um padre para presidente. O pai de Dom Aquino Corrêa faleceu em 1924, internado na Santa Casa de Misericórdia. Era a Nossa Santa Casa, por isso do nome Santa Casa, lugar Santo e de Misericórdia”, cita professor Fernando.

Por muito tempo, a Santa Casa foi o único hospital de Cuiabá e as salesianas vistas como de fundamental importância na sua condução, sendo que a cidade e grande parte do estado e da região utilizou dos seus serviços. Das salesianas destacaram-se: Irmã Assunta Caberlon, Irmã Ana Malpici, Irmã Rosita de Oliveira Lima, Irmã Ady Monteiro, Irmã Ritoca e muitas outras.

Cuiabá das Antigas

santa casa

Tadeu relembra que a Santa Casa de Misericórdia enfrentou a cólera, diversas enfermidades, também a covid-19, e os médicos cuiabanos participaram do seu socorro em prol da saúde, dando a devida assistência e colaborando com a assistência no pronto atendimento. Agora, ela enfrenta novamente o dilema de se manter de portas abertas à população.

De portas fechadas em 2019 e com uma dívida que ultrapassa R$ 100 milhões de reais, a unidade ficou sem atendimentos por dois meses, até a estadualização, sendo o primeiro hospital administrado pelo estado na capital, ao custo de aproximadamente R$ 400 mil reais de aluguel ao mês. Até hoje antigos funcionários aguardam pagamentos de salários atrasados.

Passado o auge da crise, agora a Santa Casa se vê diante da possibilidade de outro fechamento. Conforme noticiou o GD, recentemente o secretário de Saúde de Mato Grosso, Gilberto Figueiredo e o governador Mauro Mendes (União) informaram à imprensa de que com a inauguração do Hospital Central, o Estado deixará a gestão, pairando dúvidas sobre o destino da unidade hospital.

A celeuma virou tema de audiência pública na Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT). Parlamentares, sindicalistas e membros da área da saúde se manifestam contrários ao fechamento da Santa Casa. Deputados governistas tentam negociar com o governo uma saída e vereadores têm apelado ao prefeito Abilio Brunini (PL) que também tome partido e busque junto do Executivo estadual uma solução. Contudo, a história ainda não tem desfecho concretizado.

“Que a força de Gravenberg, governador de Mato Grosso de 1807 a 1819, inspire os governantes atuais em manter o prédio como mais um local com leitos para a saúde dos mato-grossenses natos e adotivos, e que um estudo seja realizado para a tomada dessa decisão, levando em conta a história e a economia da saúde”, deseja o historiador Fernando Tadeu, que reforça um pedido de união entre executivos estadual e municipal para manutenção do funcionamento da Santa Casa.

“Trata-se do nosso maior bem público e tem muita história ainda para ser registrada. Que os médicos, enfermeiros e administradores sejam bem remunerados e a saúde do povo seja mantida com a devida dignidade. Quanto mais leitos de saúde tivermos em nosso estado melhor para o povo. ‘Leito fechado significa leito não reaberto’, esse ditado é forte”, conclui.

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