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Na mesma semana em que a Comissão Parlamentar de Inquérito, a CPI do Feminicídio, naufragou na Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT), a classe política mato-grossense se mostrou solidária a casos envolvendo violência contra mulheres que chocaram a sociedade. As manifestações são em relação à agressão sofrida pela jornalista da TV Vila Real (10.1) Angélica Gomes, em Cuiabá, e a violência política contra a prefeita de Pedra Preta (238 km ao sul de Cuiabá), Iraci Ferreira (PSDB). Os casos repercutiram e geraram comoção social.
A Câmara de Cuiabá aprovou uma moção de repúdio ao vereador de Pedra Preta, Gilson José de Souza, o Gilson da Agricultura (União Brasil), em sessão ordinária de quinta-feira (28). O ato, de autoria das vereadoras Katiuscia Manteli (PSB) e Michelly Alencar (União Brasil), foi feito em solidariedade à prefeita Iraci, alvo de ataques verbais pelo vereador que a chamou de “cachorra viciada”.
A medida também se estendeu à jornalista Angélica Gomes, agredida fisicamente pelo policial militar aposentado Jerfson Santana Vieira, na noite de terça-feira (26), em Cuiabá. Angélica foi atacada enquanto gravava uma reportagem sobre um acidente de trânsito provocado pelo PM, que, em um ataque de fúria, danificou a câmera do cinegrafista João Páscoa e em seguida atingiu a repórter com um soco no rosto. Ele está preso e será internado no Hospital Psiquiátrico Adauto Botelho.
No âmbito da Assembleia Legislativa (ALMT), o presidente Max Russi (PSB) expressou indignação diante do episódio. “Quero de forma lamentável e triste registrar a minha solidariedade à jornalista Angélica Gomes, que nos cobre aqui toda semana. Ela estava apenas exercendo sua profissão e foi atacada. É preocupante, porque todo dia temos uma agressão diferente e, agora, tão próxima de nós”, declarou.
O deputado Lúdio Cabral postou nota em sua rede social onde manifestou solidariedade à jornalista. “Angélica estava cumprindo seu papel como repórter, realizando a apuração da ocorrência na Avenida Miguel Sutil, no bairro Despraiado, quando o motorista que causou o acidente desferiu um soco no rosto dela e quebrou câmeras de cinegrafistas. Na sequência, ele foi preso. É dever do Estado e da Secretaria de Segurança Pública apurar rigorosamente esse ato absurdo e punir a agressão com o rigor necessário”, publicou.
A deputada Sheila Klener (PSDB) saiu em defesa da correligionária, a prefeita Iraci, e cobrou punição ao vereador Gilson. “Um político que tem o poder da fala tem que prestar muita atenção ao que ele diz. Engula suas palavras e pense muito bem no que diz, pois você vai responder pela sua fala”, disse.
O deputado Júlio Campos (UB), do mesmo partido que o vereador Gilson, reconheceu a necessidade de uma punição ao parlamentar e condenou a fala de cunho misógino. “Eu acho que ele tem que ser pelo menos advertido, por escrito ou até mesmo com punição de 30 a 60 dias pelo mau comportamento por chamar uma prefeita, uma mulher, do jeito que ele chamou”, pontuou.
O secretário-chefe da Casa Civil de Mato Grosso, Fábio Garcia (União Brasil), repudiou as declarações do vereador e garantiu que haverá punição dentro da sigla. “O União está tomando medidas, vai submeter a Executiva e enviar a ação para comissão de ética do partido. O legislativo de Pedra Preta pode tomar sua atitude com relação a esse desrespeito. Eu não sei quais são as penas que a comissão de ética pode decidir, mas certamente atuará com rigor dentro do que o estatuto do partido permite”, assegurou.
Há poucos dias do fim do mês de agosto, os dois casos inflamaram os debates sobre os altos índices de violência contra mulher em Mato Grosso em pleno mês do Agosto Lilás, em combate a este tipo de violência de gênero. Ainda no domingo (24), também gerou comoção o feminicídio da fonoaudióloga Ana Paula Abreu, morta com mais de 15 facadas em casa pelo próprio marido, Lucas França, no domingo (24), em Sinop (500 km ao norte de Cuiabá).
A necessidade de dar um olhar mais atento a situação alarmante motivou a movimentação por uma CPI na ALMT, que foi protocolada em 20 de agosto, pela deputada Edna Sampaio (PT). O requerimento chegou a ter 13 assinaturas, mas parte delas foi retirada em meio a um acordo entre parlamentares e o Governo do Estado para ser criada uma comissão especial para tratar o tema.
Até o momento não há novas informações sobre a possível comissão.